Eu andava perdida em busca das palavras - das palavras certas que atingissem o seu centro de equilíbrio e te fizessem desmoronar. Mas eu falhei, e falhei porque percebi tarde demais que a mensagem exata nunca surge após uma procura intensa, mas se formula espontânea e livre, talvez segundos depois de se olhar nuns olhos e lá enxergar as razões que uma pessoa tem para estar ali, naquele momento, permitindo inconsciente que se perscrute sua alma.
O que importa é que finalmente entendi que o que tenho a lhe dizer não é mais que uma imensidão de silêncios, enfileirados numa dada sequência de pensamentos mudos. Sim, o que posso lhe oferecer, todo o resultado de longas conversas e um desfile interminável de palavras, não é mais que meus silêncios eloquentes, que não querem dizer nada além do óbvio que já significam: silêncios. Em seu estado puro, borbulhando mensagens ocultas. O nada.
Se a distância e o tempo me permitissem, se eu pudesse ao menos deslocar meus olhos por alguns átimos de segundo para onde quer que estejam os seus agora, eu gostaria de entregar as minhas palavras mudas de forma direta e indolor. Então você não me poderia acusar de crueldade, você apenas aceitaria passivamente aquilo que lhe é dado. Aceitaria porque é o que lhe cabe: as minhas palavras feitas de silêncio, o meu silêncio que te fala. Sei que você sabe que nunca poderá preencher as lacunas; as lacunas já estão repletas até o topo de significados confusos, você sabe, você sabe.
Só você sabe. Só quem realmente possui e pressente o silêncio, só quem vasculha as ausências é capaz de entender o que se é dito então. Só quem não possui a inocência de pensar que com o silêncio não se fala. Porque o meu silêncio, o meu silêncio pra você é um grito dilacerante.
O meu silêncio para você, aquele que lhe dou de presente, é um protesto que irá confundir e violar os seus ouvidos. É uma indignação e uma revolta que não caberiam nas palavras, elas que sempre expressam. É um vácuo, é uma falta, é um conjunto de pausas que nunca emitem verbos, mas significam, significam, incansáveis como quem respira. O exato e doloroso oposto de uma verborragia. E, quando você acha que finalmente entende, percebe que, na verdade, só está mesmo perdido no nada. Porque é o nada. É um labirinto de não-palavras.
Este papel está cheio do nada. Não são palavras, não se engane - o que eu verdadeiramente te dou está nas páginas em branco que seguem, está no vazio do envelope. O vazio que docemente te aguarda, porque a você pertence.
O vazio, meu amor.
O vazio que te devolvo, a substância com que você suavemente tece todos os seus argumentos de vento e farpas.
O vazio, porque - de todas as coisas - é o que ainda teima em permanecer.